quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bairro Negro




O projecto diz respeito à criação de uma nova identidade e suporte (embalagem de cd) para a banda portuense Bairro Negro, anteriormente conhecida como Slow Motion Beer Walk. O projecto foi desenvolvido em parceria com o colega Telmo Parreira.

O primeiro passo na construção da identidade da marca passou pela compreensão e identificação de conceitos associados a esta. A questão do nome, "bairro negro", do seu significado e da sua ligação com o contexto da banda, pareceu-nos o ponto mais crucial a "resolver", uma vez que, numa banda, o nome acaba por ser o ponto de contacto com o público mais imediato, especialmente numa primeira fase de divulgação, como acontece com os Bairro Negro. Assim, a compreensão da conjugação do nome com as suas conotações próprias, a banda e as possibilidades que a imagem visual trariam à definição desta relação, foram o ponto mais importante na nossa proposta.
Em termos de base conceptual, partimos das ideias associáveis a "bairro", ligadas às tradições portuguesa, aos seus contextos urbanos e a outras produções culturais de ligação tradicionalista; e procurámos retirar deste campo de ideias algumas imagens-chave que pudessem ser descontextualizadas e utilizadas como símbolo para uma banda. Procurámos algo que pudesse ser trabalhado graficamente, abstractizado, e criar um resultado de inspiração-fonte tradicional re-aplicada.

Assim, para a marca, inspiramo-nos principalmente nas siglas de identificação de bairros de pescadores da zona da Póvoa de Varzim, e Vila do Conde, pertencentes à zona metropolitana do Porto. Procurámos um resultado final com um carácter muito simbólico, abstracto e algo misterioso, que fosse imediatamente lido como um signo de identificação de algo restrito.
Em relação à produção da embalagem para o cd, definimos ainda numa fase muito inicial trabalhar graficamente um padrão minimalista de azulejos portugueses e explorar as suas possibilidades.

O jogo de ideias pareceu-nos coerente por se aproximar da própria identidade do Porto como cidade tradicionalista onde também existe um grande centro de culturas jovens, alternativas e ligadas à música, à vida nocturna e às subculturas (um contexto em que a banda se insere totalmente e é por eles reforçado como identidade).

A embalagem do cd foi vista como uma produção experimental e pouco convencional, uma decisão que nos pareceu lógica visto que a banda se encontra ainda num ponto de definição. A inspiração partiu mais de produções para EPs do que para álbuns mais proeminentes, e, mais especificamente, em embalagens tradicionais muito simples em termos de materiais e montagem: quisemos trabalhar essencialmente o papel, sistemas de dobragem, uma ideia de embrulho descartável ou temporário, e, ligado a esta ideia, produzir uma capa de cd que funcionasse também como booklet e como poster. Foi utilizada uma folha A2 de papel craft como objecto-suporte, e estudadas as suas hipóteses de dobragem, adaptação e intervenção gráfica para a transformar no objecto desejado. As grelhas para a composição gráfica são definidas pelas dobras de montagem do próprio objecto, tornando-o multifacetado.
O resultado final, com dobras e margens insólitas de excesso, procura reforçar esta ideia da folha A2 como objecto-matriz, não adulterado, associado também a produções em série industriais de baixo custo ou  objectos em bruto/fase de montagem.

O objecto final continua com possibilidades em aberto. A sua reprodução em outro tipo de papéis como suportes (até em papéis já impressos como objecto encontrado) será uma possibilidade, bem como a intervenção no lado mais "vazio" da folha, para adição das letras das músicas ou outra informação escrita. Foram também produzidas várias fotografias como exploração do conceito que podem ser trabalhadas em ligação com os fundos pretos da embalagem, adicionadas como objecto independente à embalagem, ou utilizadas para outro tipo de objecto de campanha.